O que são emoções
- André Wageck
- 2 de jan. de 2022
- 4 min de leitura
Atualizado: 3 de jan. de 2022
O caminho para uma sólida inteligência emocional e para uma boa capacidade de regulação começa com o fundamento sobre as emoções: o que são, como funcionam e quais são as suas características principais.
Primeiro ponto que eu gostaria de salientar é que (assim como muito do que envolve o cérebro, a cultura e a mente humana) não há consenso a respeito da definição precisa sobre o que precisamente nos referimos quando usamos o termo "emoção". Então vou me utilizar aqui da definição geralmente aceita para a psicologia clínica.
De modo geral, emoções são respostas dos organismos à mudanças no ambiente. Sendo mais preciso, emoções são mecanismos de preparação do nosso corpo para reagir a mudanças do ambiente e reestabelecer o nosso equilíbrio e nossos objetivos. Quando o ambiente muda e apresenta adversidades e oportunidades, o nosso cérebro mobiliza o nosso corpo para reagir de acordo, preparando-o para engajar e se adaptar ao mundo, seja para superar uma dificuldade ou para aproveitar uma oportunidade. Uma analogia seria um termostato - o controle do aquecedor ou ar-condicionado de uma casa - que, diante de uma discrepância entre a temperatura atual e a desejada, mobiliza o mecanismo para aquecer ou esfriar o ambiente.
Exemplos de emoções são tristeza, alegria, ansiedade, raiva, nojo, amor, inveja, vergonha, culpa e ciúmes. As emoções são diferentes dos sentimentos, que é a parte subjetiva e pode incluir misturas de emoções, intuições e pensamentos - os sentimentos são a percepção da nossa mente e do nosso corpo quando uma emoção ou outros estados mentais estão em curso. Ao passo que as emoções são as respostas do nosso organismo ao mundo propriamente ditas.
As emoções também são diferentes do humor, que é o fundo emocional que é sustentado ao longo do dia e da semana. O humor é a que nos referimos quando dizemos que estamos para cima (animados e vivos) ou para baixo (deprimidos e esgotados).
As emoções (como a tristeza, alegria e ansiedade) acionam o nosso organismos de forma multidimensional. Elas têm correlatos e afetam:
- 1) A mente - no aspecto da vontade e do impulso, nos nossos pensamentos e no que prestamos atenção e em como nos sentimos.
- 2) O corpo - na sua fisiologia do corpo (como a liberação de hormônios e neurotransmissores) e nas respostas comportamentais automáticas (como as expressões faciais).

Um exemplo que ilustra essas manifestações das emoções é o seguinte. Digamos que uma criança se encontre perdida dos seus pais em um shopping movimentado. A percepção de perigo pela criança desperta a ansiedade e medo, que mobiliza o seu organismo a se preparar para se proteger. A emoção de medo faz isso:
Pelo corpo: sua amígdala cerebral é acionada, ativa reações que liberam adrenalina e cortisol no sangue, resultando em uma transferência de energia de sistemas de manutenção (como digestão) para sistemas de ação (como o coração). Sua postura e expressão demonstram uma criança com medo e acuada.
Pela mente: a vontade da criança deixará de ser de tomar o seu sorvete para buscar seus pais e um lugar que se sinta segura ou de se encolher em um canto e chorar. Seus pensamentos vão desde qual era a última vez que os viu e onde eles disseram que estariam, até o que poderia acontecer se ele ficar perdido para sempre no shopping. Sua sensação será de medo, aflição ou angústia, com sensações de aperto no peito ou nó na garganta.
Podemos observar uma coisa interessante: a ansiedade tem um padrão para o seu surgimento e também tem um padrão em seus efeitos na nossa mente e no nosso corpo - e isso acontece com todas as outras emoções também. Por causa disso, podemos inferir o que a criança tem vontade de fazer se observamos os seus pensamentos e os seus sentimentos. A chave para conseguir fazer esta leitura da criança ou de qualquer pessoa é entender que as emoções são mecanismos que acionam respostas genéricas e funcionais a temas comuns. Deixe-me elaborar.
As emoções foram a forma que o nosso cérebro desenvolveu para responder rapidamente a mudanças do ambiente, de modo geral, na direção certa. Problemas específicos que têm temas em comum terão respostas em comum. Por exemplo, ao enfrentar um tema como "perigo" - nos perder dos pais no meio de uma multidão, ter um cachorro raivoso vindo em nossa direção, uma apresentação importante de resultados ou descobrir o resultado de um exame que revela a presença de um tumor em nosso corpo - o nosso cérebro aciona a ansiedade, que gera respostas na direção comum de procurar segurança e controle. Para um tema diferente, o de injustiça, o nosso cérebro aciona a raiva, que gera reações na direção de punir de modo a coibir o agressor. Para o tema de perda de algo valioso, o nosso cérebro ativa a tristeza, que nos mobiliza a nos isolar e refletir, que tem a função de reorientação das nossas prioridades. Do mesmo modo, se ganhamos algo que é significativo ou valioso, ficamos felizes e mobilizados para investir nossa energia em coisas novas.

Cada emoção mobiliza o nosso corpo de uma maneira particular, resultando em um sentimento subjetivo também particular. Há um estudo interessante que mapeou a ativação ou desativação de cada parte do corpo de acordo com cada emoção segundo o relato dos participantes enquanto as sentiam.
Em resumo, as emoções funcionam do seguinte modo:
- Eventos (Situação nova) → Pensamentos (Interpretação do tema que a situação significa - perigo, injustiça, perda) → Emoção (ansiedade, raiva, tristeza) → Correlatos emocionais (fisiológico, cognitivo, subjetivo e volitivo)

Assim, reagimos ao mundo traduzindo o seu significado e o encaixando em algumas categorias temáticas para, então, reagir com padrões de resposta particulares a estas categorias. Desse maneira, as nossas emoções são como "modos" diferentes de atuar no mundo, que nos mobilizam a ter prioridades particulares.
Portanto, é importante ressaltar: Emoções positivas nos fazem sentir bem e emoções negativas nos fazem sentir mal, mas ambas ocorrem porque, de modo geral, nos ajudam a lidar com os problemas do mundo de uma forma mais funcional. Precisamos de todas as nossas emoções funcionando bem para sermos saudáveis, pois, assim como a dor, as emoções negativas têm a função de nos preservar. Sabemos que uma pessoa que não fica com raiva, não fica triste ou não tem medo não é particularmente funcional.
Desse modo, as emoções organizam as nossas escolhas - moldando, restringindo e estruturando nossos pensamentos, vontades e respostas fisiológicas.
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