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Como ajudar alguém com depressão

Atualizado: 15 de set. de 2021


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A depressão na população (entendida como transtorno mental) acomete por volta de 15% das pessoas ao longo de suas vidas. Por isso, é virtualmente certo que, em algum momento, você se depare com os efeitos devastadores da depressão. Se não for em você, provavelmente será em alguém próximo, como sua mãe, seu primo, um amigo ou colega. Ainda que a depressão seja familiar para tanta gente, não é fácil saber o que fazer para ajudar quem tanto precisa. Este texto tem o objetivo de fornecer orientações para você saber ajudar alguém com depressão.


Conteúdos do Post


1. Entenda o que é a depressão


O primeiro passo para ajudar alguém deprimido é entender o que é a depressão. Quanto mais informações você tiver sobre o que é a depressão, como ela funciona e quais são os seus tratamentos, maiores serão as chances da sua ajuda ser efetiva. (para recomendações de livros sobre depressão, clique aqui).

Resumidamente, a depressão é uma disfunção na capacidade do indivíduo de regular o humor, tornando-o patologicamente rebaixado. A expressão desta doença mental será única para cada pessoa deprimida, mas o que todos os casos têm em comum é que apresentarão, em sua essência, um ou ambos destes sintomas: (1) uma sensação de tristeza intensa, generalizada e crônica; e (2) uma perda da capacidade de sentir prazer e aproveitar as coisas. Muito comum também é a redução da motivação, aumento de pensamentos de culpa e desvalorização própria, a redução da energia e até mesmo alterações da memória e do sono. Basicamente, o cérebro se engana e acha que está em um poço de problemas onde nada pode ser feito, e acha que a forma adequada de reagir é conservando as energias, não se arriscar e refletir sobre tudo o que deu e ainda pode dar de errado. É importante lembrar que a depressão é uma condição séria. Ela não é uma fraqueza ao lidar com problemas ou adversidades, mas sim uma condição em que a pessoa não é mais capaz de sentir satisfação e de perceber o lado positivo da vida.


Como identificar a depressão no outro:

É relativamente normal, dependendo das adversidades, apresentar esse quadro de sintomas por algumas horas ou até mesmo dias, pois isso faz parte da regulação emocional normal de um cérebro saudável a situações estressantes e perdas significativas. O problema da depressão acontece quando este quadro se estende no tempo, ocorrendo na maior parte do dia, por mais de duas semanas e na maioria dos dias. Fique de olho em comportamentos e sintomas que eram ausentes ou menos intensos antes desse período. Alguns sinais de preocupação são:

  • Perda de interesse de modo generalizado em coisas que costumava aproveitar

  • Choro ou tristeza frequentes

  • Pessimismo permanente

  • Queixas de dor e de fadiga

  • Dificuldade de fazer decisões

  • Alimentação reduzida mesmo sem estar de dieta


2. Entenda sobre o tratamento para a depressão

Os melhores tratamentos para a depressão funcionam com remédios e psicoterapia, sendo que os dois modos são efetivos separadamente e a opção deles juntos é a mais eficaz para qualquer tipo de gravidade. Os remédios antidepressivos são especialmente indicados para depressões mais severas, ao passo que a psicoterapia é a primeira recomendação para quadros leves por ser tão eficaz quanto, não envolver efeitos colaterais e ser mais efetiva para prevenir recaídas após o término do tratamento. A melhor opção também depende do caso e da preferência do paciente, que deve estar engajado com o tratamento e ter afinidade com o profissional.

Várias atividades que não são tratamentos formais também são muito úteis para combater a depressão (mesmo quando a pessoa não se sente motivada para começar!). Qualquer atividade que faça a pessoa se movimentar vai fazer uma diferença. Leve em conta que quanto mais a atividade tiver de (a) intensidade e frequência e (b) quanto mais trouxer de prazer e (c) conexão com os outros, melhor para a diminuição dos sintomas da depressão. Uma regra básica é ser pelo menos 30 minutos, três vezes na semana. Caminhadas são boas opções por serem práticas, fáceis e funcionarem muito bem para melhorar o ânimo. Outras alternativas são esportes, yoga, academia, dança, ou qualquer coisa que cumpra os requisitos acima.


3. Primeira ação a se tomar: converse com uma ênfase na escuta, não nos conselhos


É pesado ver quem gostamos sofrendo. Por isso, é natural tentar tirá-lo o mais rápido possível do seu lugar de tormento, seja dando um conselho ou prontamente resolvendo o seu problema. Estas atitudes, no entanto, devem ser secundárias na conversa para ajudá-lo efetivamente. Muito mais proveitoso é ter como primeiro passo a escuta - ouvir a experiência da pessoa e pelo que ela está passando. Assim você poderá mostrar para ela que você a entende e que ela não está sozinha. A ideia não é nem ficar mudo na conversa e nem fazer um interrogatório, mas conversar normalmente com o foco em entender e esclarecer a sua vivência. Se você conseguir fazer isto de um jeito que mostre que está entendendo e compreendendo pelo que ela está passando, ela vai ter a chance de constatar que não está sozinha e também poderá concluir que tem o direito de se sentir mal. Com isso, você vai fazer a pessoa se sentir melhor, mais acolhida, mais compreendida, mais leve e menos angustiada.

Pensando nos resultados com esta atitude, talvez você proteste. Você pode pensar: "Agora não só ela não terá resolvido nenhum dos problemas que efetivamente precisa resolver, como eu estarei mais angustiado porque saberei com mais detalhes e clareza do seu sofrimento. O que eu queria mesmo é que ela se encaminhasse para resolver os seus problemas para poder melhorar a sua vida. O que tem de mal em mostrar para ela o caminho? Não me sinto ajudando se eu não falo nada".

Ok, eu entendo. Mas tente ver por este lado. Toda situação terá as suas particularidades, mas dificilmente uma pessoa que está cronicamente com um problema está precisando de conselhos, de mais informações ou de ajuda direta. Ou melhor, dificilmente ela está precisando somente disso. Ela provavelmente já passou pelas fases de tentar resolver, de pedir ajuda, de ouvir conselhos. Persistir nisto seria como usar as mesmas soluções esperando resultados diferentes. Os motivos para estar patinando no lugar sem perspectiva de melhora se encontram em um nível mais profundo, que podem estar em pensamentos confusos, emoções escondidas, sentimentos mistos, motivações ambivalentes, traumas antigos. Ou seja, o buraco é mais em baixo.

Nestas situações em que o problema persiste por não ser tão simples quanto parece, é importante dar um passo para trás e trabalhar nos fundamentos - proporcionar que ela possa ser ouvida, possa se ouvir, possa entender o que está sentindo e pensando e integrar a sua mente. Para isso, o melhor que podemos fazer é praticar o que os psicólogos chamam de escuta ativa. Uma postura de busca de compreensão e esclarecimento sobre a situação, em que se mostra apoio e acolhimento sem julgamentos ou intervenções.

Se você não conseguir fazer exatamente desse jeito, não se preocupe. Isto é realmente mais fácil de falar do que de fazer, pois demanda muita prática. Outra questão é que mesmo uma conversa normal terá algum elemento desta atitude, então provavelmente você já está fazendo isso em algum nível. A ideia é ter o máximo desta postura de escuta e acolhimento que puder, e, com isso, você estará fazendo a sua parte como amigo e ajudando muito mais do que se desse um conselho "acertado".

Como fazer isso na prática? Alguns exemplos de frases para usar como inspiração:

  • Como começar a conversa:

    1. Nas últimas semanas, notei algumas diferenças em você e queria saber como as coisas estão indo.

    2. Pode ser impressão, mas parece que você tem estado distante. Está tudo bem?

    3. Eu sei que você talvez não queira conversar, mas eu queria dizer que me importo contigo e gostaria de saber como você está.

  • O que falar durante a conversa:

    1. Quando você começou a se sentir assim?

    2. Aconteceu alguma coisa para você se sentir desse jeito?

    3. Mesmo que eu não seja capaz de entender exatamente como você se sente, eu me importo com você e quero ajudar

    4. Estou aqui para te ajudar. Pode contar comigo.

Espero que tenha ficado claro como fazer essa parte, pois ela é um começo sólido e significativo para quem está deprimido. Se você achar que isto ainda é pouco e que você gostaria de fazer mais, ótimo. Ainda há muito que você pode fazer para ajudar.


4. Deixe fácil para que a pessoa faça a coisa certa - mas não faça por ela. Encoraje, mas não force

É muito provável que neste período em que a pessoa está deprimida, ela esteja deixando de fazer coisas importantes em sua vida. Talvez esteja com dificuldades para terminar um trabalho acadêmico. Talvez não esteja conseguindo trabalhar. Talvez não esteja com energia e motivação para sair de casa, ver os amigos ou fazer alguma atividade física. Talvez ela não esteja conseguindo sair da cama nem para comer. E muito provavelmente esteja remoendo pensamentos negativos a torto e a direito sem buscar tratamento adequado para seu estado emocional.

Vemos a pessoa presa em um ciclo vicioso. Quanto mais sofre, menos ela faz. E quanto menos ela faz, mais ela sofre. É muito tentador lhe mostrar as consequências que não fazer nada e ter pensamentos negativos está trazendo para a sua vida. Uma tentação que se expressa em frases como: "Por que você sofre tanto com isso quando há tantas coisas boas na sua vida?", "Olhe para o que você tem de positivo", "Levanta, sai de casa, vai falar com alguém e vai fazer alguma coisa", "Vou marcar uma consulta para você, você precisa melhorar". Este seria o equivalente a dar uma sacudida na pessoa para ver se ela acorda e dar uma empurrada inicial para ver se ela pega no tranco. Essa estratégia poderia funcionar bem para quem está largado na vida e não faz as coisas por preguiça ou inércia. Mas não vai funcionar com quem está deprimido. O problema é que seria como empurrar uma pessoa que está com o pé machucado. Se ela estivesse bem poderia funcionar, mas, como está com o pé machucado, o mais provável é que caia novamente e que ela ainda se culpe quando estiver no chão.

Podemos agir de uma segunda maneira e nos compadecermos de sua situação, entendendo que a pessoa está, de fato, machucada. Se tivéssemos essa postura, ficaríamos tentados a pegá-la no colo e levá-la até onde ela precisa ir, isto é, fazer com que ela se sinta melhor resolvendo os seus problemas. Pode ser um alívio enorme e talvez isso faça muito bem a ela. Contudo, o bem estar neste caso viria do alívio dos sintomas e não do tratamento da causa deles, o que faria esta solução ser meramente temporária. Essa estratégia deve ser evitada quando possível por esse motivo e por dois outros.

Primeiro, ao fazer as coisas pela pessoa, você, acidentalmente, poderá agravar o seu mal-estar a longo prazo, pois poderá fazer com que ela se sinta inútil, incapaz e um peso. O que acontece é que embora em muitos momentos seja necessário menos sofrimento em sua vida, o que uma pessoa deprimida precisa para melhorar de fato é de sentir-se competente, útil e conectada. Se você faz as coisas por ela, você a priva de se ver capaz de lidar com a vida e melhorá-la, de sentir que serve para alguma coisa e, assim, fortalece o seu pensamento de ser um fardo para os outros.

O segundo motivo para evitar fazer demais pela pessoa deprimida é o fato de quão pesado é levar uma pessoa inteira no colo. Há uma quantidade limitada de passos que alguém pode dar levando outro desse modo até desabar de exaustão. Estar com uma pessoa deprimida, especialmente cuidar e morar junto, pode ser excepcionalmente desgastante e, por isso, o cuidado próprio é essencial (um pouco mais sobre isso adiante).

Devemos ter, portanto, um modo equilibrado de motivá-la a agir, que se encontre em algum lugar entre (1) responsabilizá-la em excesso e (2) tratá-la como alguém incapaz de lidar com a vida. Esse ponto seria o equivalente a estender o braço à pessoa caída e oferecer palavras de encorajamento e apoio. Seria - em vez de forçar a pessoa a encarar as suas responsabilidades ou fazer as responsabilidades por ela - facilitar o processo. Uma boa regra geral é esta: em vez de mostrar ou forçar a pessoa a fazer o que é o certo, deixe o seu caminho mais fácil e a motive a percorrê-lo. Desse modo, ajudamos a pessoa a lidar com o peso da depressão (diminuindo o peso das suas atividades) e ajudamos a lidar com a falta de sentido (a encorajando).

Um exemplo seria o seguinte. Uma das coisas mais importantes que a pessoa deprimida deve buscar é uma ajuda profissional, especialmente em casos mais graves, preferencialmente com psiquiatras e psicólogos. Como mencionado, seria tentador resolver a questão de dois jeitos. Primeiro, dizer que ela precisa de tratamento e que não vai melhorar enquanto não for atrás de um. Segundo, ir atrás de uma indicação, marcar a consulta e marcar horário para levá-la. Embora sejam atitudes que demonstram preocupação e cuidado, seriam o equivalente a empurrá-la (ou dizer que ela tem que levantar) e pegá-la no colo, respectivamente. Uma abordagem mais interessante seria sentar com ela e perguntar como se sente, dizer que você está preocupado que ela possa estar deprimida e falar que o tratamento para a depressão funciona para a grande maioria dos casos e, então, perguntar se ela estaria disposta a ir em uma primeira consulta. Oferecer buscar uma indicação, marcar uma consulta ou ir junto também são ótimos apoios e incentivos. Desse modo você facilitaria e a encorajaria o suficiente para que ela tomasse a atitude de buscar ajuda.


Bons exemplos desta atitude são:

  • Procurar por indicações de um psiquiatra e psicólogo e oferecer para marcar uma consulta ou ir junto na primeira sessão.

  • Preparar o café da manhã para deixar mais fácil levantar da cama e enfrentar o dia.

  • Se oferecer para ajudar na organização dos seus compromissos e para lembrá-la do que se programou para fazer.

  • Ajudar com tarefas da casa, como comida, limpeza e organização para que seja mais fácil para ela enfrentar o dia e ir trabalhar ou estudar.

  • Convidar para fazer companhia em uma atividade física como caminhada - encontrá-la na porta de casa ou em um lugar que seja de fácil acesso facilitaria ainda mais.

  • Combinar uma sessão de estudo e trabalho em companhia.

  • Fazer os planos e convidar a pessoa frequentemente (tentar persistir com os convites e não levar para o lado pessoal).

  • Perguntar diretamente para a pessoa - Qual é a melhor forma de eu te ajudar agora?

  • Mostrar encorajamento e esperança: "Pode parecer difícil de acreditar, mas a maneira como você está se sentindo vai mudar"


O que não dizer: Ao planejar esta conversa, veja se está com vontade de dizer as seguintes coisas para a pessoa

  • Isso é coisa da sua cabeça, a sua vida não é tão ruim assim.

  • Todo mundo passa por momentos difíceis na vida, tente ver o lado bom da situação.

  • Você não está se ajudando. Por que você faz isso com você mesmo?

  • Você tem tudo para se sentir bem, era assim que você deveria estar.

  • Por que você tem esses pensamentos de morte quando tem tanto pelo que viver?

A pessoa deprimida pode até aceitar que estas frases são corretas e que fazem sentido e, ao mesmo tempo, ser completamente incapaz de ver o lado positivo da situação ou parar de ter pensamentos negativos e pessimistas. Infelizmente a sua perspectiva sombria sobre a sua vida faz parte do próprio problema que precisa ser resolvido. Se pensarmos na gratidão e otimismo como uma defesa para a depressão, a depressão seria como o HIV, que ataca o próprio sistema de defesa do organismo. Mesmo que uma perspectiva mais positiva sobre o mundo seja algo importante e parte da solução, o indivíduo deprimido será incapaz de tê-la. O que acontece é o que chamamos de pensamentos intrusivos ou automáticos. Esses são pensamentos que ocorrem automaticamente, isto é, sem o nosso consentimento ou vontade. Podemos aprender aos poucos a lidar com estes pensamentos por meio da terapia, mas não é algo que a pessoa consegue fazer sozinha sem treinamento. Portanto, esperar que a pessoa lide com estes pensamentos sozinha, simplesmente pelo fato de serem prejudiciais, é infrutífero e frequentemente prejudicial, pois acaba insinuando que a pessoa tem o controle sobre coisas que ela não tem: seus pensamentos e emoções. As únicas coisas que isso gera é frustração da parte de quem quer ajudar e culpa na pessoa deprimida.

O que a pessoa deprimida tem uma parcela maior de controle é nos seus comportamentos. Ela pode, por exemplo, buscar ajuda profissional e, como consequência, construir ferramentas para responder os pensamentos quando eles aparecerem, mudando assim o seu sentimento. Parte da terapia cognitiva para a depressão é assim. Ela pode também, em vez de ficar remoendo os pensamentos, se dedicar a uma tarefa útil ou prazerosa que lhe distraia ou conversar com alguém sobre o que está pensando ao invés de ficar sozinha ruminando.


5. Se preserve - Entendendo que é difícil ajudar uma pessoa com depressão

Os salva-vidas que trabalham na praia, antes de resgatar uma vítima de afogamento, precisam tomar providências para que ela esteja calma antes de ir pessoalmente resgatá-la, pois mesmo uma pessoa sã quando tenta salvar de qualquer jeito uma pessoa desesperada no mar resulta não em um resgate, mas em duas pessoas se afogando. O mesmo princípio de autopreservação se aplica no cuidado de alguém deprimido. Outro exemplo clássico é o das instruções quando há despressurização da cabine em aviões. Coloca-se sempre a máscara em si antes de colocar na pessoa do seu lado, mesmo que seja uma criança.

Esses exemplos explicitam uma lição importante: é preciso estar minimamente são, consciente e apto para podermos ajudar quem quer que seja. Em outras palavras, é preciso cuidar da própria vida e ter um fundamento emocional e material antes de ter qualquer pretensão de ajudar os outros. Por mais importante que seja ajudar a outra pessoa, você estar em esgotamento mental e emocional não vai ser vantajoso para ninguém.

Então, lembre-se que a sua ajuda, seja com uma conversa, escuta ou ajuda direta, pode fazer o mundo de diferença para a pessoa deprimida, especialmente a longo prazo. Mas vá somente até onde você estiver disposto a ir. É salutar ter paciência e dosar os esforços e sacrifícios, pois a melhora vem aos poucos e a recuperação funciona mais como uma maratona do que um tiro. Por esses motivos, a consistência na ajuda é mais importante do que a perfeição.


6. Lidando com o medo e risco do suicídio

"Tenho medo que ela se mate antes de conseguir um tratamento ou de começar a melhorar, mas eu tenho receio de tocar no assunto. Não quero dar ideias para a pessoa e também não sei o que falar caso ela me diga que está pensando em se matar. O que eu faço?"

Quando se reflete sobre o mal que a depressão pode causar e nos prejuízos que queremos evitar, o suicídio sempre aparece como um dos temas centrais. Isso não é à toa. Uma das estatísticas, entre tentas preocupantes na relação entre depressão e suicídio, é que, para cada cinco pessoas com depressão não tratada, uma comete suicídio. Outro dado é que o suicídio é a segunda maior causa de morte em pessoas de 15-29 anos no mundo (OMS - 2016).

Sabemos que na maior parte das vezes o sofrimento da pessoa deprimida é temporário, especialmente com o tratamento adequado. Para a pessoa que vive a depressão, no entanto, o suicídio parece o fim definitivo para um sofrimento sem tamanho e sem sentido. Ele aparenta ser uma saída para lidar com os seus problemas insolúveis e para livrar as pessoas do fardo que é lhe carregar. Portanto, o aparecimento de pensamentos de morte é esperado até em depressões leves e é frequente em depressões mais severas.

Tenha em mente que pensamentos de morte não são motivos de desespero, pois eles são comuns na depressão e muito mais comuns que tentativas de suicídio. No entanto, eles ainda são preocupantes e não devem ser ignorados, especialmente quando acompanhados de ideias suicidas e de planejamento. Na dúvida, o melhor jeito de ajudar a pessoa que pode ter esses pensamentos é falar diretamente sobre o assunto: perguntar, escutar e orientar na busca de cuidados profissionais.

É comum o pensamento de que falar sobre o assunto pode "dar ideias" para a pessoa ou normalizar a situação. Todavia, simplesmente perguntar sobre pensamentos de se machucar ou se matar não aumenta a chance de suicídio, e sim, ao contrário, protege. Na verdade, perguntar diretamente sobre pensamentos de morte em um contexto de cuidado tem dois efeitos complementares: mostra uma compreensão e interesse que validam o seu estado emocional, mostrando que ele é real e aceitável; ao mesmo tempo, revela uma preocupação com comportamentos autodestrutivos e uma disposição para ajudar. Resumindo, em vez de dar ideia para a pessoa, a conversa e escuta são componentes necessários para a redução da ideação suicida. Portanto, o medo de que perguntar sobre o suicídio possa "dar ideia" para a pessoa ou normalizar o ato é infundado.


O modo de lidar com pensamentos de morte são os mesmos comentados até então para a depressão de modo geral - escuta, validação, mostrar preocupação, ajudar de forma proativa e respeitosa, oferecer encorajamento. Todavia, a situação muda quando há um risco elevado de suicídio, quando há elementos como o planejamento e posse de meios de cometer o suicídio, principalmente dentro de um contexto onde há estressores e sofrimento intensos sem o suporte devido e uma motivação maior. Neste caso o principal a ser feito é: Encaminhar o quanto antes para avaliação de um profissional da saúde, especialmente para avaliação médica psiquiátrica.

Nesse meio tempo, tente organizar para que a pessoa não fique sozinha e tenha apoio a maior parte do tempo. Entre em contato frequente se não for possível o acompanhamento e remova ou peça para que ela remova os meios de se matar, como venenos e armas. É importante também lembrar a pessoa de entrar em contato com quem ela tem de apoio: você, um amigo, familiar, profissional de saúde que a acompanhe ou o CVV (Centro de Valorização da Vida): atendimento gratuito através do telefone 188 e no site cvv.org (chat e e-mail). Em último caso de emergência, em que as ações acima não pareçam suficientes até conseguir uma avaliação adequada, levar para atendimento médico de emergência - ambulância, pronto atendimentos e hospitais.


 

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André Wageck

Especialista em terapia clínica cognitiva-comportamental pelo Instituo WP. Graduado em psicologia e mestre em filosofia da mente pela Universidade Federal do Paraná

andrewageck@gmail.com

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☎ (41) 98485-8089

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©2020 por André Wageck

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