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Curso de Inteligência Emocional

      Apesar de as emoções serem comuns e presentes para todos nós, a habilidade para regulá-las (isto é, identificá-las, compreendê-las e utilizá-las da maneira funcional) não surge espontaneamente de nossa vivência. Na verdade, aprendemos a lidar com as nossas emoções de um modo similar a como aprendemos a tocar um instrumento musical, com aprendizado e muita prática. Por isso, este curso de emoções tem o objetivo de explicar o que são, como funcionam e qual é a melhor maneira de lidar com as emoções, em conjunto a sugestões de práticas para a sua vida e o dia-a-dia.

Importância da inteligência e regulação emocional

 

          Onde houver seres humanos, haverá emoções. Se você conversar com mais de uma pessoa sobre o que elas querem para as suas vidas e seus futuros, inevitavelmente terá uma amostra disso. Você provavelmente receberá várias respostas com referências a sentimentos - as pessoas querem felicidade, paz, prazer e também evitar preocupações, angústias e sofrimentos. As mesmas referências emocionais aparecem nos votos e mensagens de datas festivas como aniversários. Sem emoções, nossas vidas não teriam significado, textura, riqueza, satisfação e conexão com outras pessoas, e, por isso, queremos várias emoções em nossas vidas (e de preferência as boas e não as ruins). Nada mais justo.

          É sabedoria antiga, no entanto, que a busca da felicidade em si (ou da ausência de sofrimento) é contraproducente e problemática. Apostar todas as fichas na primeira coisa que parece que te dará felicidade e alívio é, de fato, uma estratégia pronta para dar errado. O motivo central para isso é que as emoções e as nossas mentes são mais complexas do que aparentam. O que parece ser claro, simples e direto é, na verdade, o resultado de uma fórmula multifacetada e complexa de fatores. A felicidade, por exemplo, não é algo que se conquista, como em um conto de fadas: "Quando eu derrotar a bruxa má e me casar com o príncipe ou com a princesa eu serei feliz para sempre". Ou em uma tradução mais moderna: "Se eu tiver essa vaga, comprar essa casa, me casar, tiver filhos, comprar esse carro e terminar esse curso, aí sim eu serei feliz".

          Não podemos nos apoderar da felicidade (e nem de outras emoções) porque ela não é um objeto que possa ser conquistado, possuído e mantido em algum lugar. Ela está mais para um lugar onde você habita, e apenas transitoriamente. Se alcançarmos a felicidade agora, não demorará muito tempo para que ela escorra pelos nossos dedos - não importa o quanto tente segurá-la - e dê espaço para outros sentimentos como o tédio e a irritação. Esse é um dos motivos que fazem a busca da positividade desenfreada ser tão tóxica.

A realidade é que emoções são como grandes ondas. Elas começam, se intensificam e inevitavelmente terminam. Isso tudo em questão de segundos ou minutos. Quando uma mesma emoção dura horas ou dias, o que estamos experimentando é o resultado de várias ondas dessa emoção.

          Se perseguimos a felicidade como objetivo final para os nossos planos, estaremos cometendo um erro de categoria, colocando a carroça na frente dos bois. A felicidade é como uma mensagem de que a vida vai bem, ela não é, propriamente, a vida boa. Não temos uma vida boa porque somos felizes, somos felizes porque temos a perspectiva de uma vida boa. Um outro jeito de entender a felicidade é como um sintoma (temporário) produzido por um radar quando encontra sinais de uma vida boa. Assim como o açúcar nos dá prazer porque nosso cérebro o entende como um sinal de que estamos consumindo importantes nutrientes mas ele não necessariamente melhora a nossa saúde, comportamentos como a busca de status e dinheiro podem nos dar felicidade e não necessariamente melhorar a nossa vida.

Entendendo isso, podemos mudar o nosso plano para uma vida mais satisfatória. Em vez de buscar possuir diretamente a felicidade, uma estratégia mais interessante é a de criar as condições (mentais e materiais) para que a felicidade possa ocorrer ao longo de nossas vidas, de uma maneira sustentável. Essa é uma, entre muitas conclusões, que pode melhorar a nossa vida quando entendemos mais sobre as emoções.

 

          Do mesmo modo, se buscarmos diretamente o alívio dos nossos sofrimentos, podemos facilmente cair em estratégias que certamente nos farão infelizes. A supressão emocional, a ruminação de pensamentos, a autoculpabilização, o abuso de comida e de drogas são alguns exemplos. Estas estratégias são empregadas porque são, afinal, soluções que funcionam para apaziguar as nossas angústias e aflições. Se elas não funcionassem, simplesmente não as utilizaríamos. O que acontece é que elas são soluções imperfeitas - funcionam somente a curto prazo ou apenas parcialmente. Do mesmo modo que a felicidade, tentar possuir e manter o alívio (ausência de emoções aversivas) não é uma estratégia que funciona por ser baseada em uma premissa que, no final das contas, é equivocada - a ideia de que possuímos controle direto sobre as nossas emoções. Infelizmente, não podemos domar as emoções e nos livrar delas quando queremos. Por esse motivo, essas estratégias têm efeitos colaterais que pioram sucessivamente as nossas vidas.

          Para lidarmos bem com as emoções negativas precisamos entender claramente este ponto. Não está no nosso poder fazer com que as emoções negativas sumam e nem está no nosso poder impedir que elas apareçam. Isso seria como tentar parar uma onda do mar. Se tentarmos fazer isso, seremos engolidos e arremessados.

          Se realmente nos empenharmos, poderemos construir uma barreira que impeça as ondas de passarem. O que pode até aparentemente funcionar, mas tem três consequências desastrosas. 1. Impede que outras emoções surjam, mesmo as que não gostaríamos de evitar. 2. A tensão interna do que é suprimido produz efeitos nocivos na mente e no corpo. 3. Diante de uma tempestade, a barragem pode quebrar e nos afogar nos momentos mais difíceis.

          Uma forma melhor de lidarmos com as nossas emoções negativas começa quando as aceitamos e paramos de tentar controlá-las, isto é, quando aprendemos a viver com elas. Quando fazemos isso, nos colocamos à disposição para surfar quando elas aparecem, e é isso que efetivamente está em nossas mãos. Em termos psicológicos, isso seria a nossa capacidade de regular as nossas emoções.

Por causa da natureza das emoções, é certo que teremos em nossas vidas emoções negativas e desreguladas, e, portanto, o verdadeiro objetivo para uma boa saúde emocional não é "não ter ansiedade" (por exemplo), mas ter a habilidade para reconhecê-la, aceitá-la, usá-la quando possível, continuar funcionando apesar dela e regulá-la dentro do possível.

          Em psicologia nós chamamos estas habilidades de regulação emocional. Ela consiste em:

  1. Perceber e nomear as emoções.

  2. Compreender a origem da emoção, para esclarecer nossos pensamentos e também os nossos objetivos e valores mais íntimos.

  3. Adequar interpretações negativas que dão origem às emoções.

  4. Manejar e usar as emoções, tendo em vista os nossos princípios e valores.

          A nossa habilidade de regular as emoções seria como a nossa habilidade de surfar e talvez preparar o terreno para ter ondas melhores no futuro. Ela é essencial mesmo para os mais saudáveis mentalmente. Aliás, (como comentado) a capacidade de regular as emoções, e não de não ter emoções negativas, é o que nos fará emocionalmente competentes. A nossa habilidade de regular as nossas emoções ditará como vamos lidar com situações significativas em nossas vidas e é a base do que podemos chamar de inteligência emocional. A inteligência emocional é a nossa capacidade de usar e entender as nossas emoções de maneira inteligente em nossas vidas e em nossos relacionamentos.

A capacidade de regulação emocional e uma boa inteligência emocional nos possibilitam:

  • Reduzir o a influência das emoções negativas sobre as nossas decisões

  • Reduzir o sofrimento causado pelas emoções negativas

  • Minimizar a intensidade, frequência e duração das emoções negativas

  • Maximizar as chances de emoções positivas ocorrerem

  • Ter relacionamentos mais saudáveis - pois as emoções são a base da nossa conexão com os outros

  • Viver melhor por estar mais em contato com nosso objetivos e valores

 

          As pessoas que não conseguem ter uma inteligência emocional para regular suficientemente as suas emoções não só sofrem mais pelos motivos listados como também são mais suscetíveis a transtornos mentais como: depressão, ansiedade generalizada, ansiedade social, compulsão alimentar, bulimia, transtorno de personalidade borderline, abuso de substâncias e transtorno dissociativo.

          Estudos também mostram que o entendimento sobre os nossos estados emocionais são positivamente correlacionados com sentimentos positivos, autoestima elevada e satisfação com apoio social. Não só isso, um estudo comparou a percepção da capacidade dos participantes em entender e descrever o que estavam sentindo com o seu nível de atenção e vigilância para esses estados. As pessoas que eram as mais atentas (possivelmente mais preocupadas) com seus estados emocionais, mas que relatavam não saber ao certo o que sentiam, eram as que mais eram suscetíveis a emoções e humores negativos, neuroticismo e ruminação. Portanto, não somente prestar atenção às emoções, mas saber lidar com elas de uma maneira adequada pode fazer toda a diferença para a nossa saúde mental

 

          Para entender um pouco melhor a diferença que uma boa e uma má capacidade de regulação emocional podem ter na sua vida, considere os seguintes exemplos.

          Felipe está enfrentando o término de um relacionamento. Ele se sente triste, com raiva, confuso, ansioso e um pouco aliviado. Ele considera normais todas essas emoções: "Rompimentos são difíceis e confusos, e outras pessoas podem ter todos esses sentimentos se passarem pela mesma situação". Ele é capaz de expressar tais emoções a um amigo, que apoia seus sentimentos e o encoraja a se sentir confortável com quaisquer sentimentos que venha a ter. Felipe pensa que suas emoções fazem sentido. Ele não pensa que deve se sentir apenas de um jeito (por exemplo, com raiva), e vê suas emoções como difíceis, mas temporárias e toleráveis.

Ao contrário, Eduardo tem uma visão muito diferente de suas emoções e do que é razoável esperar após um término de relacionamento. Ele não consegue compreender o que está sentindo e fica confuso por ter "sentimentos contraditórios". Ele pensa que outras pessoas teriam outras reações e que ele deveria sentir-se apenas de um jeito - "Será que estou com raiva, triste ou aliviado? E o que exatamente eu quero?!". Ele também se pergunta "porque devo ficar tão angustiado após somente alguns meses de relacionamento?". Ele crê que seus sentimentos de tristeza e ansiedade denunciam fraqueza - uma falha de caráter da qual sente vergonha, pois um "homem de verdade" não deveria ficar tão abalado. Teme compartilhar essas emoções pois acredita que os outros não compreenderiam o que ele tem para falar e que revelar tudo isso é humilhante. Por isso não os compartilha com Ricardo, seu melhor amigo, e assim não tem chance de receber validação e colocar seus pensamentos e sentimentos em ordem, já que está sozinho com eles. Mesmo que tivesse a coragem de superar a sua vergonha, ele acredita que expressar emoções seria como "mexer em uma casa de abelhas". Ele acha que as suas emoções durarão indefinidamente e vão sobrecarregá-lo. Ele pensa "Meu Deus, como vou conseguir trabalhar estando tão ansioso e deprimido?". As interpretações negativas que Eduardo tem de suas emoções deixam-no com medo de seus sentimentos, e ele passa a beber, isolar-se e ruminar. Suas crenças e estratégias, por fim, perpetuam a sua depressão e sentimento de inadequação.

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André Wageck

Especialista em terapia clínica cognitiva-comportamental pelo Instituo WP. Graduado em psicologia e mestre em filosofia da mente pela Universidade Federal do Paraná

andrewageck@gmail.com

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☎ (41) 98485-8089

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©2020 por André Wageck

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